30.4.08
29.4.08
28.4.08
25.4.08
24.4.08
23.4.08
22.4.08
17.4.08
16.4.08
15.4.08
14.4.08
12.4.08
11.4.08
A incomodada
Sexta-feira, 3h, Bar do Porto, Praia Grande, São Luís (MA). Conheci uma mulher inteligente, bonita e maluca. Na mesa ao lado, recitava trechos da obra de Fiódor Dostoiévski — em russo. Quando viu que eu lhe dava atenção, juntou sua cadeira a minha, perguntou meu nome e me contou a seguinte história:
“Marco, quando eu tinha sete anos, mal havia conquistado o primeiro namorado, meu pai dizia aos amigos que eu estudaria Medicina e seria uma médica respeitada, ou que estudaria Direito e ingressaria na magistratura, talvez fosse um juíza ou um promotora de justiça. Apesar das duas opções, o motivo era um só: meu pai queria que eu tivesse uma vida cômoda.
Não fiz uma coisa, nem outra. Estudei Filosofia e Literatura e o incomodei. Mal sabia meu pai que eu buscava na vida apenas vivê-la plenamente, livremente, deliciosamente. Jamais busquei comodidade. A comodidade me incomoda!
Já mulher feita (no sentido escultural da palavra, compreendi), cada vez que encontro meu irmão acomodado com aquele empreguinho público estável, aquela casinha financiada pela Caixa Econômica Federal em infinitas prestações, dirigindo um carrinho popular comprado em 80 parcelas a juros de 0,98% a.m., enchendo-se de feijoada e cerveja todos os finais de semana na casa da sogra e agradecendo a Deus por aquela vidinha medíocre, sinto que tinha razão. E sinto pena dele.
Outro dia fui visitá-lo. Ele veio-me com conselhos estranhos sobre estabilidade e compromissos. E apontou dois vizinhos como exemplos — na sua estranha maneira de ver o mundo — de pessoas felizes. E os infelizes acharam-se no direito de também dar-me conselhos.
Expliquei-lhes que a vida é única, portanto, deve ser bela, não pode ser desperdiçada sob nenhum pretexto. Nem resumida a uma rotina tediosa. Disse-lhes que o único compromisso que todos deveriam ter na vida era consigo mesmo, com a própria felicidade... Mas eles não compreendem. As regras infames estabelecida por esta sociedade covarde e hipócrita parecem que cegou a todos. Num rompante de impaciência, gritei: ‘Os acomodados que se retirem!’...
Marco, a vida não é benevolente com os acomodados. O tamanho dos sonhos não importa. O tamanho do esforço que você faz para realizá-los é o que conta. Quando Alexandre, o Grande, conquistou a Macedônia, quis o mundo; quando Pedro Álvares Cabral chegou a Porto Seguro, seguiu em busca de outras índias...
A comodidade é uma mulher rica e feia que eu jamais vou cortejar.”
Beijou-me no rosto, levantou-se e saiu. Gostaria de encontrá-la de novo...
“Marco, quando eu tinha sete anos, mal havia conquistado o primeiro namorado, meu pai dizia aos amigos que eu estudaria Medicina e seria uma médica respeitada, ou que estudaria Direito e ingressaria na magistratura, talvez fosse um juíza ou um promotora de justiça. Apesar das duas opções, o motivo era um só: meu pai queria que eu tivesse uma vida cômoda.
Não fiz uma coisa, nem outra. Estudei Filosofia e Literatura e o incomodei. Mal sabia meu pai que eu buscava na vida apenas vivê-la plenamente, livremente, deliciosamente. Jamais busquei comodidade. A comodidade me incomoda!
Já mulher feita (no sentido escultural da palavra, compreendi), cada vez que encontro meu irmão acomodado com aquele empreguinho público estável, aquela casinha financiada pela Caixa Econômica Federal em infinitas prestações, dirigindo um carrinho popular comprado em 80 parcelas a juros de 0,98% a.m., enchendo-se de feijoada e cerveja todos os finais de semana na casa da sogra e agradecendo a Deus por aquela vidinha medíocre, sinto que tinha razão. E sinto pena dele.
Outro dia fui visitá-lo. Ele veio-me com conselhos estranhos sobre estabilidade e compromissos. E apontou dois vizinhos como exemplos — na sua estranha maneira de ver o mundo — de pessoas felizes. E os infelizes acharam-se no direito de também dar-me conselhos.
Expliquei-lhes que a vida é única, portanto, deve ser bela, não pode ser desperdiçada sob nenhum pretexto. Nem resumida a uma rotina tediosa. Disse-lhes que o único compromisso que todos deveriam ter na vida era consigo mesmo, com a própria felicidade... Mas eles não compreendem. As regras infames estabelecida por esta sociedade covarde e hipócrita parecem que cegou a todos. Num rompante de impaciência, gritei: ‘Os acomodados que se retirem!’...
Marco, a vida não é benevolente com os acomodados. O tamanho dos sonhos não importa. O tamanho do esforço que você faz para realizá-los é o que conta. Quando Alexandre, o Grande, conquistou a Macedônia, quis o mundo; quando Pedro Álvares Cabral chegou a Porto Seguro, seguiu em busca de outras índias...
A comodidade é uma mulher rica e feia que eu jamais vou cortejar.”
Beijou-me no rosto, levantou-se e saiu. Gostaria de encontrá-la de novo...
10.4.08
9.4.08
distância
se não houvesse
a distância
nossas línguas
entrelaçar-se-iam?
nossos corpos
amar-se-iam
se não houvesse
a distância?
se não houvesse
a distância
tu tirar-me-ia
desta ânsia?
a distância
nossas línguas
entrelaçar-se-iam?
nossos corpos
amar-se-iam
se não houvesse
a distância?
se não houvesse
a distância
tu tirar-me-ia
desta ânsia?
8.4.08
7.4.08
Como me descobri por inteiro e não procuro mais minha outra metade. Como acredito que Deus, o onipotente, escolheu ser único, portanto, apenas os mortais tolos temem a solidão. Como já comprovei que a solidão é capaz de me lançar num mar de deliciosas aventuras e excitantes incertezas, fazendo com que eu me sinta verdadeiramente vivo...
Há noites em que a lua, as estrelas e eu nos bastamos.
6.4.08
4.4.08
amor canalha
saudade segue a fio
cortando o peito vazio
com a destreza do fio
de uma navalha
ao coração anuncio:
aventure-se num rio
de desejos no cio
ou coisa que valha
este sentimento vil
que o tornou servil
lenha à beira da fornalha
roubou dele o brio
somente ele não viu
é um amor canalha
cortando o peito vazio
com a destreza do fio
de uma navalha
ao coração anuncio:
aventure-se num rio
de desejos no cio
ou coisa que valha
este sentimento vil
que o tornou servil
lenha à beira da fornalha
roubou dele o brio
somente ele não viu
é um amor canalha
3.4.08
1.4.08
haicais livres
tua vulva
tem sabor
doce uva
quem ri quando goza
é poesia
até quando é prosa
(alice ruiz)
te falo
te cala
meu falo
sexo animal
tornou fauna
flora intestinal
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