11.4.08

A incomodada

Sexta-feira, 3h, Bar do Porto, Praia Grande, São Luís (MA). Conheci uma mulher inteligente, bonita e maluca. Na mesa ao lado, recitava trechos da obra de Fiódor Dostoiévski — em russo. Quando viu que eu lhe dava atenção, juntou sua cadeira a minha, perguntou meu nome e me contou a seguinte história:

“Marco, quando eu tinha sete anos, mal havia conquistado o primeiro namorado, meu pai dizia aos amigos que eu estudaria Medicina e seria uma médica respeitada, ou que estudaria Direito e ingressaria na magistratura, talvez fosse um juíza ou um promotora de justiça. Apesar das duas opções, o motivo era um só: meu pai queria que eu tivesse uma vida cômoda.

Não fiz uma coisa, nem outra. Estudei Filosofia e Literatura e o incomodei. Mal sabia meu pai que eu buscava na vida apenas vivê-la plenamente, livremente, deliciosamente. Jamais busquei comodidade.
A comodidade me incomoda!

Já mulher feita (no sentido escultural da palavra, compreendi), cada vez que encontro meu irmão acomodado com aquele empreguinho público estável, aquela casinha financiada pela Caixa Econômica Federal em infinitas prestações, dirigindo um carrinho popular comprado em 80 parcelas a juros de 0,98% a.m., enchendo-se de feijoada e cerveja todos os finais de semana na casa da sogra e agradecendo a Deus por aquela vidinha medíocre, sinto que tinha razão. E sinto pena dele.

Outro dia fui visitá-lo. Ele veio-me com conselhos estranhos sobre estabilidade e compromissos. E apontou dois vizinhos como exemplos — na sua estranha maneira de ver o mundo — de pessoas felizes. E os infelizes acharam-se no direito de também dar-me conselhos.

Expliquei-lhes que a vida é única, portanto, deve ser bela, não pode ser desperdiçada sob nenhum pretexto. Nem resumida a uma rotina tediosa. Disse-lhes que o único compromisso que todos deveriam ter na vida era consigo mesmo, com a própria felicidade... Mas eles não compreendem. As regras infames estabelecida por esta sociedade covarde e hipócrita parecem que cegou a todos. Num rompante de impaciência, gritei:
‘Os acomodados que se retirem!’...

Marco, a vida não é benevolente com os acomodados.
O tamanho dos sonhos não importa. O tamanho do esforço que você faz para realizá-los é o que conta. Quando Alexandre, o Grande, conquistou a Macedônia, quis o mundo; quando Pedro Álvares Cabral chegou a Porto Seguro, seguiu em busca de outras índias...


A comodidade é uma mulher rica e feia que eu jamais vou cortejar.

Beijou-me no rosto, levantou-se e saiu. Gostaria de encontrá-la de novo...




3 comentários:

Vi disse...

Vamos todos nos incomodaaaaaaaaaar!!!!

Ana Paula Nogueira disse...

êta, se eu tivesse lá hein... hehehehhehe. era papo bom menino!!! me liga da próxima vez, quem sabe a gente não tropeça pelas palavras subversivas por aí. bjos

Rosa Magalhães disse...

E não é que a moça tem razão?? mas quando decidi ser jornalista, contrariando o desejo do meu pai de ter uma advogada na família, achei que ia incomodar. Pelo contrário: minha paixão por essa louca, louca profissão (a melhor do mundo) contagiou a todos. Comodidade é para os fracos! Beijo.

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