29.12.08


no terceiro pacote encontrei

meus melhores presentes:

havia dezenas de amores,

uma porção generosa de saudades,

quatro centenas de sonhos e

quase um milheiro de delírios.

ah, também uma garrafa de vinho.

pelo visto,

2009 será inesquecível!



26.12.08


aquele poema em que saiu seu nome
não liga não é você
não vou te comprometer com a minha ilusão
foi erro de revisão


(Martha Medeiros)

22.12.08



ela, que só
me olha de lado,
meio infantil,
nem desconfia
que sou melhor
de perfil

19.12.08

O andarilho

Quem chegou ainda que apenas em certa medida, à liberdade da razão, não pode sentir-se sobre a Terra senão como andarilho — embora não como viajante em direção a um alvo único: pois este não há. Mas bem que ele quer ver e ter os olhos abertos para tudo o que propriamente se passa no mundo; por isso não pode prender seu coração com demasiada firmeza a nada de singular; tem de haver nele próprio algo de errante, que encontra sua alegria na mudança e na transitoriedade.

Sem dúvida sobrevêm a um tal homem noites más, em que ele está cansado e encontra fechada a porta da cidade que deveria oferecer-lhe pousada; talvez, além disso, como no Oriente, o deserto chegue até a porta, os animais de presa uivem ora mais longe, ora mais perto, um vento mais forte se levante, ladrões lhe levem embora seus animais de tiro. E então que cai para ele a noite pavorosa, como um segundo deserto sobre o deserto, e seu coração se cansa da andança.

Se então surge para ele o sol da manhã, incandescente como uma divindade da ira, se a cidade se abre, ele vê nos rostos dos quais aqui moram, talvez ainda mais deserto, sujeira, engano, insegurança, do que fora das portas - e o dia é quase pior que a noite.

Bem pode ser que isso aconteça às vezes ao andarilho; mas então vem, como recompensa, as deliciosas manhãs de outras regiões e dias, em que já no alvorecer da luz ele vê, na névoa da montanha, os enxames de musas passarem dançando perto de si, em que mais tarde, quando ele, tranqüilo, no equilíbrio da alma de antes do meio-dia, passeia entre as árvores, lhe são atiradas de suas frondes e dos recessos da folhagens, somente coisas boas e claras, os presentes de todos aqueles espíritos livres, que na montanha, floresta e solidão estão em casa e que, iguais a ele, em sua maneira ora gaiata, ora meditativa, são andarilhos e filósofos.

Nascidos dos segredos da manhã, meditam sobre como pode o dia, entre a décima e a décima-segunda badalada, ter um rosto tão puro, translúcido, transfiguradamente sereno: — buscam a filosofia de antes do meio-dia.


(Friedrich Nietzsche. Capítulo VIII - inciso 638 de Humano, Demasiado Humano)

17.12.08




cedo desejei
tarde conquistei
tarde perdi
cedo esqueci


15.12.08

c o n v o c a ç ã o

convoco meus ex-amores
do penúltimo, dos bastidores
ao primeiro, o da escola,
os das vidas passadas
e os vindouros afora
para tirar deste meu peito
o amor que sinto agora



14.12.08


e quem disse que tem que
fazer sentido o que escrevo?
estranho é crer no que não vejo,
desejar ser teu desejo
e morrer pelo teu beijo






10.12.08



quando te amo?
todos os segundos,
todos os minutos,
todas as horas,
escorpiano.
todos os dias,
todos os meses,
todos os anos!




8.12.08

o tempo passa
e não passa
a lembrança do beijo

sabor uva passa



5.12.08



Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.

(trecho do poema “à vida” da russa marina tsvetaeva. tradução de haroldo campos)

1.12.08


amo esse reino dos sonhos
onde você ainda cresce

essa luz nos meus olhos
onde você aparece

estar ainda viva
que assim a vida não te esquece



(alice ruiz)