31.3.08

memória

amar o perdido
deixa confundido
este coração.

nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do não.

as coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


(carlos drummond de andrade)

28.3.08


vos digo
em verdade:
nem a moral torta
da sociedade,
que grande mal causa
a felicidade,
nada deterá teus
sonhos,
eles se tornarão
realidade!


27.3.08


saudade aperta o peito
versos que componho
frutos de um sonho

26.3.08

vontade

se desejo e posso ter,
por qual razão não teria?
quem acha: “isto é errado!”
cuide ele da vida dele
que eu, eu cuido da minha


25.3.08

certezas incertas

faz-me menos
desperto
a certeza do certo

é na incerteza dos
desacertos
que, vezes, acerto




24.3.08


não uso a loucura
como biombo,
mas foi tropeçando
na ‘normalidade’
que levei os
maiores tombos





19.3.08


Reconheço sempre os meus erros.
Senão, como poderei cometer erros novos?



18.3.08

soneta

de uma costela? que nada!
saiu de dentro do peito
deus, o maior dos poetas,
fez a mulher de um soneto
não de um monostrófico
ou de um petrarquiano,
fez de um soneto divino
talvez shakespeareano
pobres mortais desconhecem
o rigor da rima e da métrica
e quem tenta recitá-lo
sempre nos versos tropeça.
catorze versos, me deu na veneta,
faço justiça, chamo soneta



17.3.08

clara mente.
cara a cara
e a carapuça
caiu-lhe,
claramente!



16.3.08

Bom dia!

Geralmente acordo às seis da manhã, espontaneamente — abomino despertadores. Converso com o sol ou com a chuva, depende de qual deles veio desejar-me bom dia, depois beijo meu filho, carinhosamente, enquanto ele dorme.

Antes de entrar no chuveiro, leio um pouco de poesia ou filosofia e faço alguns acordes no violão. Durante o banho, danço e penso no poema que direi à Daniela e na maneira mais agradável de saudar o pessoal da Redação. Depois reflito sobre o que eu e Jesus conversamos na madrugada e só então vou tomar café.

Como se vê,
antes do desjejum do corpo, faço o desjejum da alma. E aí está toda a diferença.


14.3.08

Extraio meus delírios do ópio criativo.


13.3.08

Nunca, mas

Nunca fugi para o deserto,
mas já desertei de fugas;

Nunca transformei água em vinho,
mas já tomei vinho como se fosse água;

Nunca fiz um aleijado andar,
mas já andei com um aleijado. E ainda ando;

Nunca fiz um cego enxergar,
mas já fiquei cego de amor (foi quando enxerguei a felicidade);

Nunca desejei a irmã de Lázaro,
mas nunca é tarde;

Nunca fiz sermão numa montanha,
mas já recebi sermão maior do que uma cordilheira;

Nunca caminhei sobre as águas,
mas aprendi a nadar sobre elas e sou muito grato ao Pai;

Nunca agredi vendilhões num templo;
quase não vou a templos, salvo o maior deles: o meu corpo;

Nunca apaixonei-me por Madalena,
e não mereço perdão por isso;

Nunca ofereci a outra face,
mas já apanhei e ainda apanho nas duas;

Nunca fui um messias, nem tenho a pretensão de ser um,
mas prego o amor há exatos 33 anos e às vezes, por isso, querem crucificar-me...

... perdoai-os, Pai, eles não sabem o que eu faço!


12.3.08


de bruços
ou nos braços,
deitada você
me levanta
e eu levito...
deitada você
é, no mínimo,
o máximo


11.3.08

Ela vivia a importunar-lhe. Tirava-lhe o sossego sempre. Implicava com suas botas de combate, com suas poesias eróticas, com seus exageros no vinho e com suas serenatas nas noites de lua cheia. Certo dia, durante um passeio pela Bolívia, ele deu seu grito de liberdade:

Deixe-me em La Paz!


10.3.08

(Vi o poeta Glauco Mattoso usando
uma camisa com a marca
da editora Ame o Poema
na revista Língua Portuguesa,
edição 26, de dezembro de 2007.
Achei genial!)

8.3.08

mulher

me pôs no mundo
me pôs no mude
me pôs no mudo


(mulheres, às vezes, me deixam sem palavras)

7.3.08

O beijo é a menor distância entre dois corações


6.3.08

ponto de vista

não ao ponto de interrogação
à exclamação a preferência
fim ao ponto final
vida longa às reticências...



5.3.08


Maior que meu desejo
só minha imaginação

Meu desejo de tê-la aumenta a cada dia. Parece seguir o ritmo frenético das batidas do meu coração. Parece que foi acrescentado, delicadamente, de fermento afrodisíaco.

Ela é fascinante. Encanta-me o seu corpo preciso. Não importa que tecido o cubra, vejo-o desnudo, sempre.

O perfume é inebriante. Embebeda-me. Embebedado, danço nu, poeticamente, ao som de aulos. Num delírio, começo a imaginar o que nós poderíamos fazer juntos e o desejo cresce ainda mais. Muito mais.

Maior que meu desejo só minha imaginação. Esta tem turbinas. Voa à velocidade da luz. Às vezes, torna-se quase inalcançável. Às vezes, não consigo acompanhá-la. É quando meus pensamentos ultrapassam os limites aceitos de lucidez. É quando me torno um insano. É quando escrevo!






4.3.08

saudade, ainda

te falo na cara,
sem falso rodeio,
ainda é você

meu maior desejo.

as flores do nosso
primeiro encontro
ainda perfumam
a lembrança
do primeiro beijo





3.3.08

para a criatividade
não há limites.
para a ignorância,
também não


2.3.08

contradição, é verdade,
mas somente cego de amor
enxergo a felicidade





1.3.08

poeminha
errado
*
errei
por ter te conhecido
errei
por ter me apaixonado
errei
por ter me envolvido
errei
por ter te deixado...
errar,
tenho este dom!
errar
também é bom
*