30.5.08


Ocupo-me
de minhas culpas
até o cume


No próximo Natal vou pedir de presente para o Papai Noel um baú de guardar culpa. Dos fardos que carrego ou carreguei na vida, o de culpa é o pior deles.

Além de culpa, já carreguei fardos de abatimento, aborrecimento, acanhamento, angústia, ansiedade, antipatia, apreensão, asco, assanhamento, atribulação, aversão, birra, cisma, cólera, desassossego, desgosto, desilusão, desprazer, dor, fossa, insatisfação, insegurança, inveja, medo, melancolia, melindre, menosprezo, nervosismo, pieguice, pouco-caso, raiva, rejeição, ressentimento, sanha, sofrimento, tédio e vergonha — entre outros.

O tempo — “e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1-8) — encarrega-se de aliviar o peso dos fardos sobreditos. Porém, li, não sei onde, que culpa é a única dor da alma que o tempo e a ponderação não conseguem nunca acalmar.

Dos meus fardos, é possível dividir vários deles com alguém. Mas como dividir uma culpa, exclusivamente minha, com o outro? Só faria eu me sentir mais culpado ainda.

E meu fardo de culpa nem é tão grande assim. Grande mesmo é o fardo de erro. Mas este eu levo comigo aonde vou e nem reclamo. Utilizo os erros antigos para evitar confusão na hora de cometer novos.
Agora, o que fazer com o peso da culpa? Existe Engov para ressaca moral ou kryptonita para superego?

"Todo homem
é culpado do bem
que não fez."
(Voltaire)

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Se alguém souber o que devo fazer com a culpa, que me diga. De minha parte, vou ouvir Sobre anjos e arraias (clique aqui para ouvir também. A letra está logo abaixo), do meu amigo Bruno Batista, e beber vodca, quem sabe eu não consiga afogá-la.


Sobre anjos e arraias
BRUNO BATISTA

Sou de um tipo perigoso
Como anjos e arraias
Sempre ando com essa laia
Não tenho mãos para flor...

Sou lascivo e violento
Mas não consta no contrato
Não resisto em apartamento
Sinto falta do contato
Aprecio Johnny Depp
Vendilhões, putas da Help
E garrafas de saquê
Jogo sujo, dou calote
Só tenho o calo da sorte
E a vontade de morrer!

Mas quem, além de mim,
Te deixaria tonta de tanto cuidado?
Além de mim
Te deixaria as contas e nenhum trocado?
Limparia teus sapatos
Inventava mil favores
Invadia tua casa
Testaria novas cores
Comandava outro atentado
Amassava teus recados
Te pegava assim de lado
E sonhava teus amores?

Quem, além de mim,
Trocaria uma saudade por duas lembranças?
Além do além
Tem um lugar mofado e sem esperança
Onde eu corto tuas tranças
Sigo todos teus conselhos
Deixo meu cinza de lado
Admito teu vermelho
Mato os gatos da família
Poupo os garfos e a mobília
Convoco toda a quadrilha
E revelo meu segredo:

Ah, meu Deus,
Eu sou o pecador
Eu sou o pecador
Que te acorda mais cedo!

Um comentário:

Bandys disse...

Marco
Dos sentimentos a culpa é o mais bobo de todos.
Pois nada se faz com ela...
Ela não move nada.
Um grnade beijo pra ti