16.2.08

No final, tudo dá certo

As pessoas acostumam-se com algumas conquistas — que, na maioria das vezes, nem são lá grandes coisas — e, quando as perdem, acham que o mundo desabou. Muita calma nessa hora. No final, tudo dá certo.

É assim, por exemplo, no trabalho. O imbecil do seu chefe, que nunca te deu chance de mostrar suas qualidades, resolve cortar gastos e começa pelo seu emprego, como se o seu salário mixuruca fosse mudar alguma coisa na saúde financeira da empresa. Você fica arrasada. E a prestação do celular? E o perfume do Boticário que comprou de três vezes da colega de trabalho? E o aluguel?

Aí parte para a ponte do São Francisco. Afinal, neste mundo cruel não vale a pena viver. Eis que aparece aquele "c.d.f." da terceira série. Aquele feioso que sempre foi apaixonado por você e você nunca deu bola. Pois não é que ele se tornou um homem interessante? Agora é advogado e trabalha num grande escritório que precisa urgentemente dos seus serviços. Ah, paga cinco vezes mais do que aquele outro emprego que, graças a Deus, você foi demitida. Não existe plantão nos feriados e todos os sábados e domingo você está livre. Com um pouco de sorte, você ainda pode arranjar um bom partido...

É assim também no amor. Aquela mulher que você jurava que ia ser a mãe dos seus filhos se manda. Aí bate o desespero. Como viver sem ela? Quem vai te fazer queimar, derreter nas noites frias? Ponte do São Francisco!

A caminho, toca o telefone. É aquela sua amiga que odiava sua namorada te convidando pra um jantar. Aí você pensa: se é pra morrer, que seja de estômago cheio.

Depois de um fettuccine al pesto imbatível, que, após algumas taças de vinho você não consegue parar de elogiar, sua amiga te apresenta a responsável pelo manjar. Meu Deus!!! Duas semanas depois e ela (a do fettuccine) te mostra que sua ex — aquela ciumenta que não entendia seus poemas, não sabia nada de literatura e tinha um gosto cinematográfico duvidoso — te fez um favor. Então, você ouve "Obrigado (Por ter se mandado)", do Cazuza, a todo volume, no carro em direção à felicidade.

É sempre assim. A vida tende a dar certo.
A Lei de Murphy só vale para os pessimistas. Um sábio disse uma vez que antes de pensar em Murphy, devemos pensar num Ex-Murphy, mais tarde conhecido como Smurf. Filósofo de pouca estatura, azul, barbudo e progenitor de centenas de pequenas criaturas azuis. Perseguido por Gargamel, dizia que se algo pode dar certo, dará.




(escrito em novembro de 2006 para o site Quer Dizer)


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